Faça uma faculdade, depois um ou dois MBAs, tudo junto a cursos vários de inglês e espanhol e aulas de piano. Ao final de 20 anos você poderá começar como estagiário, desempenhando serviços menores e de segunda classe passados por um chefe que sofreu o mesmo tipo de assédio, mas agora é hora dele “descontar”. Há muito bons cursos e universidades no Brasil, mas a proliferação dantesca de cursos de nível superior no país levou a criação de ainda mais “necessidades” falsas. Desculpe, o brasileiro médio não fala inglês e, entre aqueles que alegam fluência, 90% são incapazes de fazer um pedido completo numa loja norte-americana do McDonald’s. Nossos cursos de MBA, em sua maioria, são um apanhado tosco de apresentações de Powerpoint – metade chupada de aulas de outros professores e outra metade chupada de apresentações motivacionais no SlideShare.
Bem, isso acontece em muitos lugares do mundo também – não vamos apontar apenas o brasileiros. Mas o fato é que, embora muitos se armem até os dentes para negar, por conta de meia dúzia de escolas que realmente promovem inovação no ensino, o ramo acadêmico brasileiro é tradicionalista, desnecessariamente formal, repleto de vícios e, principalmente, amante de métodos retrógrados e atrasados.
Ok, e o que as startups têm a ver com isso?
Bem, essa é a exatamente a pergunta que eu faço. Como instituições que rezam que você tem de adquirir imenso preparo até mesmo para preparar um café se alinham com iniciativas e técnicas que desenvolvimento de produtos e negócios que têm como principal característica o risco, a rapidez, a dinâmica e, principalmente, a possibilidade de aprendizado com o erro ou estratégias equivocadas, que podem ser aprimoradas não por meio de conhecimento formal, mas de constatações decorrentes de sua própria execução?
Não podem.
Modernização versus moda
Aderir a modismos promovendo campeonatos e rodadas de startups, enquanto professores ainda dão as mesmas aulas de 40 anos atrás, porém munidos de apresentações mal diagramadas de Powerpoint, não constitui uma “modernização”. Isso é moda – e como toda moda, infelizmente ela passa. Instituir uma filosofia de criação de empresas como startups e implementar ciclos de aprendizado baseados em tentativa e erro são coisas que contradizem quase tudo o que vemos hoje em uma universidade.
Concluir um curso que ditou regras inflexíveis do certo e do errado ao longo de 4 ou 5 anos com um projeto no qual o erro é apenas um motivo para a implementação de melhorias é, no mínimo, hipocrisia. Outra: vários professores especialistas em tudo e mais um pouco abraçaram a filosofia startup e o vocabulário pernóstico do empreendedorismo digital e moderninho, mas sequer foram pesquisar a respeito. É como ensinar gramática da língua inglesa retirando do programa a gramática da língua portuguesa.
Ensinar errado ou não ensinar nas universidades?
A pergunta é difícil – quase uma pegadinha. Tenho visto professores ensinando empolgados diagramas do Canvas em aulas de gestão – ensinando errado. A grande maioria deles está tomando o Canvas, apenas para usar um exemplo, como sendo uma “versão resumidinha” do bom e velho plano de negócios do Sebrae. Não dá exatamente para culpá-los: direções de universidades cobram assuntos da moda de seu corpo docente – é preciso vender mais.
Melhor do que não ensinar, certo? Talvez. Mas o fato é que com essa prerrogativa, estamos tornando uma estratégia inteligente e moderna de empreender em mais um exercício aborrecido aplicado em aula. Mais um trabalhinho merda para completar a nota da prova. Mais uma forma de desinteressar o aluno.
Como fazer?
Bem, em primeiro lugar, o paradigma do “esperar até se formar” para empreender ou ingressar no mercado de trabalho é um mito que precisa ser derrubado. Derrubado, espancado, queimado vivo e atirado aos cães. Que as estratégias que ajudam a empreender estejam ministradas no começo, não no término de uma faculdade. Que elas sejam incutidas e discutidas ao longo de todo o curso, não como disciplina “extra” para atazanar o aluno em seu ano de formatura.
É a boa e velha história. As universidades estão “tentando”, como muitos diriam. Honestamente? O brasileiro precisa parar de tentar e simplesmente começar a fazer. O mesmo se aplica aqui.